terça-feira, 6 de setembro de 2016

De que forma a prisão de Sócrates influencia as votações no PS?

Na noite de 24 de Novembro de 2014, o país soube que o ex-primeiro-ministro José Sócrates ficaria em prisão preventiva, acusado de crimes de fraude fiscal qualificada, corrupção e branqueamento de capitais. Já se passaram seis meses sobre a sua prisão e, soube-se, no passado dia 23 de Maio de 2015, que este vai continuar detido por mais três, de acordo com a decisão do juíz Carlos Alexandre.
Hoje, longe de terminar o prazo para terminar o inquérito, que pode prolongar-se por mais ano e meio, o desfecho continua em aberto. Não se sabe se Sócrates será libertado daqui a três meses, na próxima fase de ponderação sobre o inquérito, que quase coincide com o início das campanhas eleitorais - legislativas e presidenciais, e com todo o longo e complicado processo de negociações para a formação do nosso próximo Governo. Ou se, por outro lado, de acordo com o pedido feito pelo Ministério Público e divulgado pelo advogado João Araújo, este sábado, dia 6 de Junho, lhe será concedida a prisão domiciliária.
E a questão que se impõe aqui é: De que forma todo este problema, todo este processo, influencia, ou não, as votações do PS, os resultados do PS nas próximas eleições?
As opiniões dividem-se.
Rita Azevedo tem 23 anos e é educadora de infância. Para ela, a prisão de José Sócrates poderá influenciar negativamente as votações do Partido Socialista, no sentido em que faz denegrir a imagem dos políticos. “Cada vez mais as pessoas começam a desacreditar na mudança, na palavra de pessoas que deveriam defender o bem maior, quando, na realidade, muitas das vezes, acabam por ocupar os lugares mais altos para seu próprio bem, para seu próprio proveito. Não acredito que seja só uma questão relacionada com este partido em concreto, mas com a política no geral. Seja qual for o partido político, as pessoas desacreditaram-se da mudança, já partem do princípio que o que é dito é mentira, que tudo o que é feito tem por trás algum tipo de corrupção e isso afeta negativamente a ida às urnas”, diz. Opinião que vai ao encontro da de Jorge Beja, 54 anos, Agente de Seguros, Membro do PS Moita e um defensor das poltícias de Sócrates. “As pessoas estão cada vez mais desacreditadas na política, e o Sócrates ajudou a isso. O PS sofre porque podia ganhar com maioria absoluta e, mesmo achando que vai ganhar, sim, não me parece que seja com maioria absoluta devido a toda esta situação”.

Jorge considera que muitas pessoas foram atrás do Sócrates, enquanto pessoa, e esqueceram-se um bocado das ideologias do PS, dos ideais do PS propriamente ditos, o que levou a que algumas dessas pessoas, naturalmente, ficassem desiludidas e nem queiram, de momento, ouvir falar no assunto. “Mesmo que não seja verdade, da fama ele já não se livra, e isto concretiza a ideia errada que as pessoas têm dos políticos.  As pessoas não votam porque pensam à partida que os políticos só querem ganhar dinheiro. E isto prejudica a política no geral”, diz.

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Catarina Oliveira, de 25 anos, estudante de Jornalismo, diz que na sua opinião o facto de José Sócrates estar preso não vai influenciar as votações no PS. “Um partido é mais do que uma cara, e pelo menos eu voto pelos ideais de um partido e não pelo seu cabeça. Nas últimas eleições legislativas, votei PS, em parte porque fiz parte da equipa do PS nas autárquicas anteriores mas também porque por isso estive mais atenta e informada sobre as propostas do partido. Claro que é normal que as pessoas que votam se sintam enganadas. Eu também me senti. Como passei a maior parte da minha vida em Alvaiázere, um sítio pequeno onde a maioria das pessoas é idosa, na minha opinião, as pessoas votam mais pela cor/pelo partido e não tanto pelo cabeça de lista, o que, numa situação como esta, seria favorável aos resultados do PS. Porque, com Sócrates culpado ou inocente, o voto não mudaria porque o importante era o partido em si”, diz.

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Diogo Marques tem 20 anos e está no 2ºano do curso de Fisioterapia. Para Diogo, sendo António Costa o ex-braço direito do Sócrates, e tendo este sido preso, todo o discurso de Costa corre o risco de ser visto como “mais do mesmo” e por isso há uma grande desconfiança por parte das pessoas. “Tudo isto pode ser visto como um processo de continuidade, que não deu em nada excepto na pobreza do país e no encher do bolso de alguns. Um deles, está na prisão. E, por isso, toda a acção de quem está cá fora, como é o caso de António Costa, terá de ser feita tentando desviar todas as atenções desse assunto para mostrar que a tal continuidade não existe”, afirma.

Mas há também que considerar a falta de comunicação por parte de Costa. Quem o diz é Joana Carreto, 32 anos, professora de História e Geografia. “Ainda não se sabe muito bem o que aconteceu, e muito menos se sabe o que vai acontecer, mas mesmo assim acho que a política do actual governo é bem pior por isso estou convicta na vitória do Partido Socialista, mas nunca com maioria absoluta porque o fantasma Sócrates continua a pairar no ar. Hoje, sempre que há uma discussão política, vão sempre buscar o Sócrates. É mau, e o actual líder do PS também não fala sobre o assunto. Os políticos importantes do PS, como ele próprio, Manuel Alegre e Mário Soares apoiam o Sócrates.”

Mário Soares, que sempre o defendeu desde o início de toda esta situação, pediu recentemente pela segunda vez a libertação de José Sócrates.  “O juíz Carlos Alexandre e o procurador Rosário Teixeira tentaram encontrar um motivo para que fosse julgado por qualquer ato que tenha praticado. Nunca o conseguiram. Daí que qualquer pessoa lúcida reconheça que deve ser posto em liberdade quanto antes e com os devidos pedidos de desculpa”, diz o antigo chefe de Estado na sua habitual coluna de opinião no Diário de Notícias.

A juntar a Mário Soares, multiplicam-se as manifestações de apoio, entre as quais a do Movimento Cívico José Sócrates, Sempre. Com cerca de uma centena de apoiantes vestindo t-shirts do movimento, a última manifestação solidária, no dia 24 de Maio, terminou com todos de mãos dados, em frente ao portão da cadeia de Évora, cantando o tão emblemático tema Grândola, Vila Morena e também o hino nacional. Este movimento prevê realizar uma iniciativa deste género todos os meses, em frente à cadeia, onde José Sócrates está desde o dia 25 de Novembro de 2014, depois de ter sido detido a 21 de Novembro.

Junho de 2015
Inês Antunes Malta

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