terça-feira, 6 de setembro de 2016



Anzol Castiço



João Simões, Paulo Cardoso, João Tiago Santos, Joana Carreto, Sofia Paredes e Hugo Soares são um grupo de seis amigos que perceberam que, com ou sem formação na área, havia um ponto de interesse, um gosto que era comum a todos: o gosto pelo teatro. E foi assim que nasceu o grupo de teatro “Anzol Castiço”, um grupo, sobretudo direccionado para as peças infanto-juvenis, que tem vindo sempre a crescer e promete vir ainda a crescer muito mais. 

A criação do grupo e uma nova versão da Cinderela 
Tudo começou em Setembro de 2013, porque no Teatro Rápido estava aberta um concurso para pequenas peças, de cerca de 15 minutos cada. Em relação ao início do grupo, João Simões, que dentro do grupo faz um pouco de tudo – é encenador e guionista, embora também trabalhe na parte técnica -, conta que “os medos eram muitos porque, para alguns, era a primeira vez em teatro”. Partindo deste ponto, surgiu então a ideia de fazer uma coisa mais simples, que passava por não dar a cara e trabalhar apenas com fantoches. E foi assim que surgiu a Sardinha Cinderela, uma versão diferente que vem desafiar o clássico – a história da Cinderela -a que estamos habituados. “O texto foi escrito com base na experiência que eu tinha em mergulho e na parte da ecologia. Uma vertente ecológica e pedagógica que está sempre presente nas nossas peças”, acrescenta.


Relativamente à escolha do nome do grupo, Joana Carreto conta que “para fazer a candidatura ao Teatro Rápido tinhamos de ser mesmo um grupo formado e, por isso, tinhamos de ter um nome”. “Era necessário um nome e então juntámo-nos todos, um dia, num jantar, com o propósito de o encontrar. Estávamos a pensar, vários nomes surgiram mas nenhum nos pareceu o certo. Até que o João Tiago olhou para as duas garrafas de vinho que se encontravam em cima da mesa, disse: Anzol, e disse: Castiço. Baralhou os nomes e pensou em várias possibilidades, mas como o mais simples é o melhor, e, por unanimidade, ficou Anzol Castiço.” 

 O grupo fez então a candidatura, apostando no teatro para a família, uma vez que o mês escolhido seria Dezembro e o tema do mês de Dezembro era a família, o respeito pela diferença e o respeito pela harmonia. Com a candidatura e o guião entregues, faltava apenas a resposta. Que não demorou a chegar. “Um dia, recebemos um telefonema dos responsáveis a rir, a dizer que se tinham divertido muito com as ceninhas do teatro, porque tinha partes muito divertidas e até levava os adultos ao mundo da fantasia sub-aquática”, conta João Simões. 

Depois de a candidatura ter sido aceite, juntaram-se para fazer workshops de como se borda, de como se constrói uma sardinha com tecidos, de tudo o que era preciso para fazer as sardinhas e eles ainda não sabiam. “Nós ensaiávamos, fazíamos as sardinhas, foi sempre tudo feito por nós. O dinheiro que ganhamos é para investir nas peças, no nosso trabalho”, diz Joana Carreto. Em todo este processo de construção, contaram também com a ajuda de Eduardo Filipe, cenógrafo, na elaboração de todos os cenários necessários para o teatro de fantoches, e de Sérgio Barão, na fotografia, que desde o início até agora é quem tem sempre feito os trabalhos fotográficos


“Eu fazia a parte técnica com o Hugo, e cada um dos actores fazia dois personagens, alguns deles com personagens uma a seguir à outra, portanto, a mudar de voz e tudo mais. Isto é complexo mas também foi um trabalho divertidissimo”, recorda João Simões. A peça esteve em cena um mês, no Teatro Rápido, em Dezembro de 2013.

“Com este grupo, procuramos que as histórias infantis, que sempre foram um poderoso meio de comunicação entre gerações, se mantenham como elemento de partilha e de vivência no contexto familiar mas, desta vez, a partir de um imaginário bem português – o mar”, refere João Simões. A história da Sardinha Cinderela encaixa nesta definição, mas é também importante mencionar as questões ecológicas e pedagógicas aqui presentes. Em primeiro lugar, a sardinha ia ao baile e encontrava, pelo caminho, tudo o que lhe destruía o seu belo vestidinho, de forma a sensibilizar as crianças para as espécies de vida marítima existentes no nosso oceano”, como se pode ler na página do facebook do grupo. E, em segundo lugar, assinala também o respeito pela diferença. “Nós tinhamos ali três douradas, as duas irmãs e a madrasta, que faziam um fincapé à sardinha, que era a mais pequenina. Havia ali uma descompensação de espécies diferentes que nós tinhamos de atenuar. E já tinhamos saudades. Quase ao fim de um ano, voltámos a fazer no Jardim da Estrela e, de facto, chegámos à conclusão de que ainda temos de fazer mais sardinhas”, diz João Simões.


Do Teatro ao Origami 
O Teatro Rápido trouxe-nos alguma publicidade, alguma visibilidade. Foram convidados por algumas escolas para apresentar a peça. Estiveram no Bracinho de Prata. Além das peças de teatro, o grupo Anzol Castiço dinamiza também outros tipos de actividades, como os workshops de voz e de origami, visto que, tal como diz João Simões, “pelos vistos, o origami é uma coisa de que todos gostamos”.


A segunda peça e o crescimento do grupo
Depois do sucesso alcançado com as sardinhas, o Anzol Castiço decidiu apostar num novo modo de actuar: desta vez, nesta segunda peça, trabalha-se sem os fantoches. Depois de pedida a autorização ao autor para usar o seu texto e adaptá-lo ao teatro, “A História de uma Gaivota E do Gato que a Ensinou a Voar” , de Luís Sepúlveda, foi apresentada pelo grupo pela primeira vez no Grupo Desportivo e Escolar “Os Combatentes”, grupo com o qual o Anzol Castiço mantém uma parceria. Eram também necessários mais actores para a sua execução e, por este motivo, o grupo foi alargado. “Tivemos a sorte de ter estas pessoas todas, e o grupo foi engrossando. Neste momento, para este último projecto, fomos 28 pessoas. Passámos a ter músicos, professores de música, técnicos, iluminadores… Isto foi uma coisa que foi crescendo, crescendo, crescendo”, diz João Simões. Foi estabelecida também uma parceria com a Escola Secundária Passos Manuel, onde alguns alunos do curso de teatro – como Márcia Sobral, a gaivota, e Diogo Filipe, o Zorbas – estagiaram no Anzol Castiço.



“Temos andado sempre com o espectáculo de um lado para o outro”, diz Joana Carreto. Durante todo o mês de Dezembro estiveram no grupo Dramático e Escolar “Os Combatentes”, e também no Auditório Carlos Paredes, em Benfica, no mês de Março. E fizeram também uma apresentação no Pavilhão Desportivo da Estrela para as crianças da Junta de Freguesia. Por agora, o Anzol Castiço vai estar no dia 15 de Maio no Carregal do Sal, distrito de Viseu, com duas sessões de “A História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar”. Uma à tarde, para as escolas, e depois uma à noite, para o público em geral. O grupo está também a trabalhar na realização de mais workshops e numa nova peça, que deverá estrear, na Madragoa, no próximo mês de Dezembro. Uma história que vai meter muito amor, muito sangue e muito levantamento histórico e social daquela ex-freguesia, e que vai confrontar a burguesia da Lapa com as varinas e os pescadores da Madragoa. “Vai ser forte, vai ser um musical, e mais não digo”, conta João Simões.

“Picar para apanhar. Alcançar o peixe e puxá-lo com força”
Todo este projecto não se fica apenas pelo teatro, contempla ainda a parte social. Para além da intenção de intervir na comunidade, dando formação a pessoas desempregadas, que não têm objectivos ou não sabem como formular um projecto, o grupo Anzol Castiço foi solicitado para participar num projecto de intervenção social, com o Grupo Dramático e Escolar “Os Combatentes”,com a Junta de Freguesia da Estrela e com a Associação “Apoia-me”. Para terminar, João Simões refere que: “Queremos ser um grupo aberto a receber pessoas de várias áreas. Temos um rapaz a trabalhar connosco e está a sair-se muito bem. Eu espero que ele, com este projecto, ganhe vontade de ir estudar, fazer o 8º e 9º ano e depois um profissional, algo mesmo prático para que ele se sinta satisfeito. Ele não saía de casa, fechava-se sobre si próprio e neste momento já está a pôr o seu sorriso cá fora, já manifesta a sua opinião. Ele tem lá todos os condimentos, falta-lhe é fazer o click para despertar para a vida. Espero que o anzol também sirva para isso, é picar para apanhar, não é? E a nossa questão aqui é alcançar o peixe e puxá-lo com força para que ele cresça e se desenvolva”.


Junho de 2015 
Inês Antunes Malta

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